O que mais sinto falta morando fora do Brasil não é o que você imagina
- Clara Andrade Gomes
- Feb 1, 2022
- 2 min read
A gente acha que quando se muda pra fora, vai sentir falta da família, da comida. E sente sim. Mas uma coisa que nunca considerei ao me mudar pra fora do Brasil é que sentiria falta de uma coisa que parece tão banal: o português.
É difícil até explicar essa saudade. A sensação de uma parte de mim que está faltando.
Pra mim, língua materna é conforto, tem uma sensação familiar. Quando estava aprendendo uma língua estrangeira, sentia que era lazer misturado com obrigação. Mas nunca me senti muito “em casa” falando o inglês por exemplo.
Na língua materna as palavras estão mais próximas de mim, quase que fisicamente. Não preciso procurar muito, as palavras fluem mais fácil. A língua estrangeira dá aquela travada, aquela sensação de não saber pra onde ir. É tudo mais desconhecido.
As piadas que conheço, e que ouvi - principalmente do meu pai - quando pequena, são em português. O humor em português parece mais visceral, até mais engraçado. Além do mais, o humor tem as nuances do lugar de origem (nesse caso, o humor brasileiro), que tornam aquilo unicamente engraçado.
O dia a dia em outra língua
Eu moro na Austrália há mais de cinco anos. Morei em outros países antes disso também, nenhum deles falava português.
Não poder falar a língua materna na rua, no trabalho e em casa é difícil às vezes - meu companheiro só fala inglês. Principalmente em casa, já que para mim, a casa onde eu moro está ligada ao conforto e ao familiar. Tenho que encontrar vias fora da língua para sentir essa familiaridade.
No meu dia a dia, em casa, no trabalho, na maioria das situações sociais, eu tenho que explicar certas coisas com muito mais rodeios para me fazer entender. Também peço muitas explicações, pra ter certeza que entendi.
Como é ficar tanto tempo sem falar a língua materna?
Quando fico enferrujada numa língua, muito tempo sem falar, é igual subir numa bicicleta depois de muito tempo sem andar. Ou jogar um esporte que não jogo há muito tempo. Sai umas coisas estranhas, meio embolado. Procuro as palavras, peço ajuda - quem se comunica comigo por telefone sabe bem!
Já me conformei que tem palavras que vou esquecer mesmo. Meus amigos acham graça. Mas o fundamento do que eu quero falar, o conceito, eu não esqueço. Hoje em dia, eu gosto de experimentar explicar algo sem a palavra exata. Preciso ser criativa.
Às vezes, quando sinto falta de casa no Brasil, sinto falta é do português mesmo. De ouvi-lo ao meu redor, de usá-lo pra me comunicar. Toda conversa é um prazer. O português é uma salvação às vezes. Só de ouvir me deixa mais feliz.
Interessante incluir na 'bagagem' das saudades, a língua pátria e as reflexões relacionadas aos sentimentos, questionamentos e clareza nas estórias .😍 Conceição Andrade, 08/02/2 022